O Sacramento da Reconciliação - IV

quinta-feira, 9 de setembro de 2010
á vimos o que significa a distinção entre pecado grave e pecado leve. É bom recordar que devemos ter cuidado em evitar não somente os pecados graves (aqueles “nãos” que damos a Deus em questões graves e com plena liberdade consciência de que estamos agindo de modo errado), mas é também muito importante evitar os pecados leves ou veniais (aqueles “nãos” do dia-a-dia, fruto de nossas fraquezas), porque o descuido nas coisas pequenas pode nos levar ao distanciamento e ao esfriamento em relação a Deus, tornando-se, depois, numa situação de pecado mortal. Jesus já advertia no Evangelho que quem é fiel nas coisas pequenas, será fiel nas grandes e quem é infiel nas pequenas, será infiel nas grandes (cf. Lc 16,10).
Começamos também a ver quais os elementos necessários para uma confissão válida e frutuosa. Vimos que o primeiro elemento necessário é a contrição, quer dizer, um sincero reconhecimento do pecado cometido e um verdadeiro arrependimento. Sem esta contrição, a confissão não teria sentido algum. Seria como alguém que pedisse perdão a uma outra pessoa sem nenhum sentimento de arrependimento; seria um pedido da boca para fora... seria uma ofensa, uma falta de sinceridade e de respeito para com o outro!
Um segundo elemento para a celebração validade da Reconciliação é a confissão, ou seja, o penitente deve enumerar todos pecados graves de que tem consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam muito secretos. Os pecados leves também devem ser confessados. É bom recordar que, quanto mais temos dificuldades em confessar determinado pecado, mais é necessário fazê-lo, porque mais esse pecado nos está ferindo a consciência e atrapalhando nossa intimidade com Deus. Acusar-se diante de Deus – representado ali pelo seu ministro – não é um ultraje à dignidade do homem, mas uma prova de maturidade e humildade. Pela acusação o homem encara de frente os pecados dos quais se tornou culpado, assumindo a responsabilidade deles e, assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão com a Igreja, comunidade dos irmão no amor de Cristo. Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à memória, não se pode duvidar que tenham o intuito de apresenta-los todos ao perdão da misericórdia divina. Os que agem de outra forma, tentando ocultar conscientemente alguns pecados, não colocam diante da bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio do sacerdote. Pois, se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao médico, a medicina não pode curar aquilo que ignora.
Aqui, é necessário esclarecer alguns pontos importantes:
(1) Se esquecemos de confessar algum pecado, não é necessário refazer a confissão: o pecado foi perdoado. Somente não é perdoado o pecado do qual eu me recordava e não confessei. Se fiz um atento exame de consciência e, mesmo assim, esqueci, no momento, de confessar tal pecado, devo ficar tranqüilo!
(2) Não devemos ter vergonha de confessar. O padre que nos escuta não está ali para nos julgar ou condenar. Ele é ministro da misericórdia e do perdão do Senhor Jesus. Além do mais, ele, o ministro também é pecador: sabe o que é a fraqueza humana!
(3) O padre tem o direito e o dever de ajudar o penitente, fazendo-lhe algumas perguntas, caso sinta que é necessário, para que o mesmo faça uma boa confissão. Mas o padre não tem o direito de insistir em perguntas inconvenientes, dando a idéia de curiosidade. Neste caso, o penitente, com educação e firmeza, pode dizer: “Padre, sobre isso, o que eu tinha para confessar já confessei!”
(4) Mais uma vez é necessário insistir: um pecado escondido é um pecado não perdoado e que vai continuar a ferir a consciência! É necessário confessar com clareza e paz, com maturidade e responsabilidade aquilo que fizemos de contrário ao amor a Deus e aos irmãos!
(5) Para que o fiel fique inteiramente à vontade, a Igreja garante-lhe o direito de escolher livremente seu confessor. Somente é bom que tenhamos o hábito de nos confessar o quanto possível com o mesmo padre, porque assim ele poderá nos acompanhar de modo mais eficiente com seus conselhos. Afinal de contas, a confissão é também um momento de aconselhamento e formação de nossa consciência segundo o Evangelho.
(6) A confissão dos pecados leves é muito recomendável, pois nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito Santo. Santo Agostinho dizia: “Quem confessa os próprios pecados já está agindo em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se tu também os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador são, por assim dizer, duas realidades: quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do pecador, é o próprio homem quem o fez... Quando começas a detestar o que fizeste, é então que tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o começo das boas obras”. No entanto, não é necessário deixar de comungar porque praticamos pecados leves. Somente os pecados graves devem nos fazer interromper a comunhão sacramental. Os pecados leves são perdoados também sem o sacramento da Penitência. De que modo? Pelas obras de caridade, no ato penitencial da Celebração eucarística, no exame de consciência seguido de um sincero ato de contrição, nas provações suportadas com paciência por amor de Cristo. No entanto, quando nos confessamos, é bom recordar mesmo esses pecados leves.

0 comentários:

Postar um comentário