O Sacramento da Unção dos Enfermos - I

quinta-feira, 9 de setembro de 2010
 O Sacramento da Unção dos Enfermos - I

Vamos, agora, refletir sobre a Unção dos Enfermos, antigamente chamada de Extrema Unção. Trata-se de um sacramento tão desconhecido, mas de um sentido belíssimo.
Comecemos com uma afirmação do Concílio Vaticano II, citado pelo Catecismo da Igreja Católica: “Com a sagrada unção dos enfermos e a oração dos presbíteros, toda a Igreja recomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado, para que ele os alivie e salve, e exorta-os a unirem-se livremente à paixão e morte de Cristo, e a contribuírem assim para o bem do Povo de Deus” (Lumen Gentium 11; Catecismo, 1499). Aprofundemos o significados dessas palavras. A doença faz parte da vida, mas é sempre uma experiência dolorosa: ela nos enfraquece, baixa nosso moral e nos revela sempre de novo nossa impotência, nossos limites e a fragilidade de nossa vida. Em certo sentido, toda doença nos coloca diante da possibilidade e da realidade da morte. E há tantos modos de enfrentar a doença: pode-se vivê-la com amargura, com revolta, com espírito derrotista ou, pode-se vivê-la como uma ocasião de amadurecimento, de reflexão sobre a vida e, para um cristão, a doença pode aparecer como um modo de participar da paixão do Senhor em benefício de toda a Igreja e da humanidade.
Aqui entra o Sacramento da Unção: o óleo é símbolo da graça do Espírito Santo, Espírito de força e de consolação (ele é o Paráclito, Consolador). Este Espírito é o Espírito do Cristo morto e ressuscitado. Pois bem, ele dá ao enfermo a força e a graça de fazer de sua doença um modo de participar da paixão do Senhor. Assim, a Unção dos Enfermos é um sacramento que nos une à Páscoa do Senhor, como já dizia São Paulo: “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). “Cristo será engrandecido no meu corpo, pela vida ou pela morte. Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,20s). “Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 19b-20a). Desse modo, a doença é vivida pelo paciente com um sentido positivo, pascal, salvífico: um modo privilegiado de participar da paixão e cruz do Senhor, para com ele chegar à glória da ressurreição. Triste na vida não é sofrer, mas sofrer sem ver um sentido nesse sofrimento. O Sacramento da Unção dá um sentido cristológico, um sentido positivo à doença e à dor. A debilidade humana é, assim, transfigurada em Cristo, assumindo um aspecto de força na fraqueza e dando ao enfermo a tranqüila serenidade de quem sabe que seu calvário terminará na ressurreição. Ainda mais: o sacramento une o fiel sofredor à Igreja, já que ele completa em seu corpo o que faltou das tribulações de Cristo em benefício do seu corpo, que é a Igreja (cf. Cl 1,24).
Mas, vejamos de modo mais detalhado alguns aspectos e elementos desse Sacramento.
Quais os fundamentos bíblicos desse sacramento?
No Antigo Testamento, a doença aparece como ocasião para que o homem experimente sua pobreza e, derramando suas lágrimas diante do Deus da vida, obtenha ajuda e socorro. Assim, a doença torna-se caminho de conversão e o perdão de Deus pode dá início à cura (cf. Sl 6,3; Is 38; Sl 32,5; 107,20). Sem querer dizer que a doença é conseqüência direta e automática do pecado, a Escritura deixa claro que existe uma ligação entre o modo como enfrentamos a realidade negativa da doença e o mundo de pecado no qual vivemos. O sofrimento é visto, às vezes, como meio de redimir os pecados nossos e dos outros. É o caso dos sofrimentos do Servo sofredor: “Pelas suas feridas, fomos curados” (Is 53,5).
No Novo Testamento, Cristo Jesus apresenta-se como aquele que vem inaugurar o Reino dos céus: reino de vida e felicidade, de alegria e de paz. Por isso ele não somente cura, mas também perdoa os pecados, a maior de todas as doenças! (cf. Mc 2,5-12). Ainda mais: ele, na sua misericórdia, se identifica com os doentes: “Eu estava doente e me visitastes” (Mt 25,36). Aos doentes, Jesus pedia que cressem e, às vezes, os curava, com o sinal de que o Reino dos céus havia chegado. Os doentes chegavam mesmo a tocar nele, pois nele repousava o Espírito Santo, como força que a todos curava (cf. Lc 6,19).
Ora, Jesus não somente curou os enfermos como sinal da chegada do Reino de Deus, como também ordenou que seus discípulos fizessem o mesmo (cf. Mc 6,12s; 16,17s). Além desse mandato geral do Senhor, há aqueles que, na Igreja, recebem um especial carisma para realizar curas em nome do Senhor Jesus (cf. 1Cor 12,9.28.30). No entanto, o Senhor é sempre livre para conceder ou não a crua. Às vezes, nem a oração mais insistente, pode obter a cura. Pense-se no caso de São Paulo, que depois de pedir e pedir, recebe do Senhor, como resposta que basta ao Apóstolo a sua graça, pois na fraqueza manifesta-se a força de Deus (cf. 2Cor 19,2). Então, que fique claro: ninguém tem o direito de “forçar” Deus a realizar um milagre. Deus é soberano também aí! E tristes de nós se nossa fé e confiança nele dependerem de milagres....
Continuaremos no próximo artigo.

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