O Sacramento da Reconciliação - III

quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Recordemos uma coisa muito importante quanto à disciplina sacramental: somente Cristo é quem pode instituir os sacramentos e, de fato, foi ele quem os instituiu. A Igreja não pode acrescentar nem suprimir nenhum dos sete sacramentos. No entanto, a mesma Igreja tem a autoridade de disciplinar a prática sacramental. A Penitência oferece um belo exemplo dessa autoridade da Igreja. Vejamos um pouco como a prática da Penitência desenvolveu-se na história da comunidade eclesial.
É certo que Cristo instituiu o Sacramento da Reconciliação para todos os membros pecadores da Igreja; o modo como esta administrou tal sacramento variou de época para época. Nos primeiros séculos, até o século VI, a disciplina penitencial era bastante severa. Os pecados leves não eram colocados debaixo da Penitência sacramental; eram perdoados através da oração, da esmola e do jejum, sobretudo da participação piedosa a Eucaristia. Quanto aos pecados mais graves, sobretudo a idolatria, a apostasia, o adultério e o homicídio, eram colocados sob o Sacramento que, naquela época tinha a forma de Penitência pública. De modo geral – com pequenas variações de acordo com a região -, o penitente confessava ao Bispo seus pecados. Era, então, admitido na Ordem dos penitentes. Passava, então, um longo período – às vezes, vários anos! – fazendo a penitência determinada pelo Bispo. Somente depois de cumprida a penitência, o fiel podia participar novamente participar da Eucaristia. Até lá, ficava excluído da Mesa do Senhor. Esta penitência pública, em geral, não podia ser repetida: era dada uma vez só na vida! A partir do século VII, com a mudança da situação dos cristãos, este tipo de celebração da penitência sofreu uma grande modificação. Por influência do Oriente e dos monges irlandeses, a administração da Penitência passou a não mais ser pública, mas “privada”: o penitente procurava o presbítero, confessava não somente os pecados graves, mas também os veniais e, após cumprir a penitência dada pelo sacerdote, recebia imediatamente o perdão dos pecados. É esta a forma que ainda hoje vigora na Igreja.
Alguém pode perguntar pela diferença entre pecado mortal ou grave e pecado venial... Para compreender isso, é importante recordar que o pecado não é simplesmente a desobediência a uma lei, a uma norma, mas o “não” que se diz ao amor de Deus. Quanto mais esse “não” é consciente e livre e é dado em matéria grave, mais o pecado é grave, podendo mesmo, matar totalmente a nossa amizade com Deus. Por isso é chamado pecado mortal: leva nossa relação com Deus à morte! O pecado venial é aquele “não” que foi dado ou sem plena consciência, ou sem pleno consentimento ou, ainda, em matéria não grave. Por exemplo: uma coisa é uma mentira em coisa de pouca importância e, outra, uma grave calúnia, com plena consciência do mal que esta pode causar. Uma coisa é certa: para avaliar a gravidade do pecado é necessário levar em conta três coisas: (1) a matéria do pecado, (2) o grau de consciência que a pessoa tinha que estava fazendo algo que desagradava a Deus e (3) o grau de liberdade que a pessoa teve de cometer ou não: ela lutou ou não contra aquele pecado, foi premeditado ou casual?
Pois bem, pela atual disciplina sacramental da Igreja, para uma frutuosa celebração do Sacramento da Reconciliação, é necessária, antes de tudo, a contrição, ou seja, um sincero reconhecimento do pecado cometido e um verdadeiro arrependimento. O Concílio de Trento explica que a contrição é uma dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro. Por isso mesmo é necessário, para a contrição sincera e frutuosa, o exame de consciência, à luz da Palavra de Deus tal qual a Igreja a expõe e interpreta. Não é o que é pecado “pra mim”, mas o que é pecado segundo a fé da Igreja! Eu não sou a medida de todas as coisas! No exame de consciência, é bom perguntar-se sobre três áreas: minhas relações com Deus, minhas relações com os outros, minhas relações comigo mesmo. Quanto mais cuidadoso o exame de consciência e quanto mais sincera e profunda a contrição, mais frutuosa será a celebração da Reconciliação na nossa vida. Claro que se não há um exame de consciência cuidadoso e, conseqüentemente, não se chega a um sincero arrependimento, então, o sacramento pode chegar mesmo a ser totalmente inválido! Sacramento não é mágica, não é rito automático: é encontro entre o Senhor que concede a graça e o homem, sedento da misericórdia e da vida que vêm de Deus!
É conveniente que nos perguntemos: como tenho feito meu exame de consciência para a Confissão? Faço-o de modo sério, piedoso ou, ao invés, de modo mecânico, desatento e descomprometido? Procuro, sinceramente, pela oração e a escuta da Palavra de Deus, tomar consciência dos meus pecados e arrepender-me com sincera contrição? Pecado que não reconheço e do qual não me arrependo é pecado não perdoado, tornando a celebração da Penitência totalmente inválida!

0 comentários:

Postar um comentário